Clube Belavistense

Acrílica sobre tecido. 272 x 488 cm.
2021


O Brasil contava com somente 8 cursos de arquitetura no Brasil até a década de 1960, de acordo com o diagnóstico do arquiteto e pesquisador Hugo Segawa, com exceção de Brasília e Minas Gerais, os demais centros de formação se distribuíam entre estados litorâneos como São Paulo, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Sul. As demais regiões, sobretudo aquelas afastadas do litoral, passaram a contar com circulação mais efetiva de arquitetos somente a partir da década de 1970 com os planos estatais de integração nacional e a criação de escolas de arquitetura fora dos centros metropolitanos tradicionais.

Precedendo esse período, os anos de mobilização em torno da construção de Brasília impulsionaram anos de uma expressiva expansão das áreas urbanas no interior do Brasil, edificadas majoritariamente por não-arquitetos como pedreiros, engenheiros, desenhistas e muitas vezes pelo próprios habitantes ou proprietários dessas construções. Tal diagnóstico de uma suposta ausência de arquitetos somadas a massiva difusão de signos de modernidade nesse período, pode ter resultado na vasta quantidade de edificações populares espalhadas pelo Brasil que se apropriaram da estilística arquitetônica modernista presente em Brasília, especialmente a coluna do Palácio da Alvorada (1958), primeira edificação concluída da capital.

Em paralelo a rarefeita presença de escolas de arquitetura no interior do país no século XX, soma-se a baixa ocorrência de escolas de artes baseadas nos cânones ocidentais das Belas Artes, notando-se mais frequente a atuação de trabalhadores que se alternava em práticas que iam desde a realização de letreiros, cartazes e outdoors de cinemas até a execução de cópias de pinturas clássicas para atender famílias de classe média instaladas no interior do país. No geral, práticas baseadas na ideia de cópia e/ou reprodução de imagens pré-existentes, mas diretamente baseadas em modos particulares e locais de execução.

Nesse sentido, pode-se especular que o avanço de uma série de narrativas de modernidade, desvinculadas de instituições e estruturas que frequentemente são relacionadas a ideia de modernização, pode ter caracterizado uma prática comum dentre um grupo amplo e heterogêneo de trabalhadores no interior do Brasil: A apropriação, reinvenção e possível subversão dos signos de modernidade produzidos nas metrópoles do país e difundidas através de campos como a arquitetura e a pintura.

Notada a perpetuação desses modos de fazer até a atualidade, o projeto “Clube Belavistense” (2021), assim como os trabalhos e “O antigo fórum de Cruzeiro do Sul” (2022) e “A grande orla de Novo Aripuanã” (2020), propõem a colaboração com pintores que mantem uma prática baseada no princípio da cópia, encomendando a esses artistas a representação suntuosa dessas edificações pensadas por não-arquitetos que de maneira subjetiva se apropriaram dos cânones arquitetônicos modernistas no Brasil.