Talles Lopes
       
Talles Lopes
Archive      Text
Bio             CV
       
Construção Brasileira: Arquitetura Moderna e Antiga
Brazil Builds: Architecture New and Old
Impressão sobre papel.
80 páginas.
18,5 x 15 x 1,2 cm.
2018.
Print on paper.
80 pages.
7,3 x 5,9 x 0,5 in.
2018.



“Talles Lopes se interessa pelo espaço doméstico, mas desde uma perspectiva histórica – o que levou os moradores de bairros populares de diversas regiões do Brasil a se apropriarem das colunas que compõem a icônica arquitetura do Palácio do Planalto, em Brasília? Quais os limites entre a arquitetura oficial de um país e seu uso kitsch? Um artista-pesquisador, Talles faz uma publicação que cita o clássico catálogo “Brazil Builds” (1943) e busca (ironicamente) por essa “construção brasileira” - Raphael Fonseca. [1]



Construção Brasileira: Arquitetura Moderna e Antiga investiga e mapeia a apropriação de elementos modernos por culturas construtivas informais no Brasil, partindo de um conjunto de exemplares arquitetônicos que incorporaram a forma da coluna do Palácio da Alvorada (projeto de Oscar Niemeyer em Brasília, 1958) em suas fachadas.

Apropriando-se do título de Brazil Builds, a célebre exposição e o catálogo dedicados à arquitetura moderna brasileira no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) em 1943, o trabalho reúne imagens de segunda geração encontradas na internet, documentando cerca de 100 dessas construções em 22 estados brasileiros.

“Talles Lopes is interested in domestic space, but from a historical perspective - what led residents of popular neighborhoods in different regions of Brazil to appropriate the columns that are part of the iconic architecture of the Planalto Palace in Brasilia? What are the boundaries between the official architecture of a country and its kitsch use? An artist-researcher, Talles makes a publication that cites the classic catalogue “Brazil Builds” (1943) and seeks (ironically) for this “Brazilian build”.

- Raphael Fonseca. [1]


Brazil Builds: Architecture New and Old investigates and maps the the appropriation of elements of modernity by informal building cultures in Brazil, starting with the architectural examples that incorporated the shape of the Alvorada Palace column (designed by Oscar Niemeyer in Brasília, 1958) in its facade.

Appropriating the title of Brazil Builds, the renowned exhibition and the catalogue dedicated to modern Brazilian architecture at MoMA in New York in 1943, this work brings together second-generation online images, documenting around 100 translations of these modernist canons into Brazilian vernacular in 22 Brazilian states.


Um corpo no ar pronto pra fazer barulho. Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC GO). 
A body on the air ready to make some noise. Contemporary Art Museum of Goiás. 
Um corpo no ar pronto pra fazer barulho. Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC GO).
A body on the air ready to make some noise. Contemporary Art Museum of Goiás. 
44o SARP. Museu de Arte de Ribeirão Preto.
44st SARP. Museum of Art of Ribeirão Preto.
Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. 2019.
International Architecture Biennale of São Paulo. 2019.
Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. 2019.
International Architecture Biennale of São Paulo. 2019.
Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. 2019.
International Architecture Biennale of São Paulo. 2019.
Colonial Oasis. Kubik Gallery. São Paulo.

Construção Brasileira: Arquitetura moderna e antiga” é uma pesquisa em desenvolvimento desde 2017, a pesquisa se iniciou no interior de Goiás, quando o artista e arquiteto Talles Lopes testemunhou uma variedade de construções não-oficiais que replicavam a forma da colunata e outros elementos modernistas. Por se apropriar da estilística modernista sem seguir as diretrizes do Movimento Moderno, esse tipo de arquitetura com frequência foi chamada de “Arquitetura Kitsch[2] ou “Modernismo Popular[3] . São construções elaboradas por não-arquitetos (Pedreiros, desenhistas, engenheiros e muitas vezes pelos próprios moradores) possivelmente ao longo da década de 1960 após massiva midiatização da construção de Brasília.

Partindo da constatada ausência de arquitetos nos interiores do país até meados da década de 1970 [4], somada a fundação e ampliação vertiginosa de núcleos urbanos Brasil afora após a construção de Brasília, pode se deduzir que a maioria dos espaços constituídos sob o ideário de modernidade foram produzidos por não-arquitetos, sujeitos responsáveis pela edificação de parte significativa da paisagem construída no Brasil.

Preocupada com a evidente lacuna historiográfica a respeito desses espaços produzidos na periferia do pensamento moderno, Construção Brasileira catalogou mais de 100 dessas construções em 22 estados brasileiros, além de outros 10 exemplares documentados em diferentes países do globo (Guatemala, Egito, EUA, Irã, Portugal e Paraguai ). Documentação possível através de um método que associa buscas de palavras-chave em plataformas sociais, consultas ao Wikipedia e a bibliografia sobre arquitetura popular, somadas a longas investigações pelo Google Street View.

O projeto propõe aproximar essa fascinação com o modernismo de Brasília com um de seus precedentes históricos: A exposição e seu catálogo homônimos “Brazil Builds: Architecture new and old, 1652-1942”, realizada no MoMA em 1943, organizada por Philip Goodwin com imagens do fotógrafo Kidder Smith. Sob um viés histórico, a exposição apresenta um panorama das edificações modernistas brasileiras, mas assim como Brasília, se esforça para propor essa arquitetura como suposta representante de uma unidade nacional.

Brazil Builds (MoMA, 1943) narra uma modernidade triunfante pela sua capacidade de adaptação aos trópicos, fabula-se uma arquitetura passível de modernizar o terceiro mundo na medida em que se miscigenava na esfera cultural, geográfica e climática, numa velada e suspeita convergência os discursos vigentes de uma democracia racial. Nesse sentindo, Brazil Builds antecipa Brasília e advoga pela arquitetura modernista como autêntica representante de um suposto “povo brasileiro”, mesmo que contraditoriamente essa arquitetura fosse exceção na paisagem habitada por esses sujeitos.

O “povo”, essa abstrata e heterogênea categoria frequentemente ignorada pelos ciclos de modernização, mas convocada a compor a narrativa do movimento moderno, estabelece um contraponto ao apropriar-se da arquitetura modernista na figura da Coluna da Alvorada, para elaborar seus próprios sentidos de modernidade. Dessa forma, “Construção Brasileira” propõe perceber esse processo através da ficcionalização de um catálogo de arquitetura, apropriando-se do design e a diagramação do catálogo clássico de Brazil Builds, para apresentar essa coleção de arquiteturas não oficiais espalhadas Brasil afora.

Borrando a fronteira entre as narrativas oficiais e não-oficiais sobre a modernidade no Brasil, mas como Caetano, especulando que ainda de se “ver que há muitos níveis insondados, muitos estágios misteriosos nas relações entre as massas e o que se convencionou chamar de modernidade” [5] .

[1]

[2]
GUIMARÃES, Dinah; CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura kitsch: suburbana e rural. Ed. II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

[3] LARA, Fernando Luiz Camargos. “Modernismo Popular: elogio ou imitação?”. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v. 12, n. 13, Dec 2005, pp. 171-184.

[4] SEGAWA, Hugo. Arquitetos peregrinos, nômades e migrantes. In: Interlocuções na arquitetura moderna no Brasil: o caso de Goiânia e de outras modernidades. Goiânia: Universidade Federal de Goiás-UFG, 2015.

[5] VELOSO, Caetano. Texto para o catálogo Des maisons comme des tableaux (Paris, Centre Georges Pompidou, 1988). In: Mariani, Anna. Pinturas e Platibandas. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.
Raphael Fonseca. Catálogo da exposição "Um corpo no ar pronto pra fazer barulho". Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC GO).  

"Brazil Builds: Architecture New and Old" is a research in development since 2017, the research began in the interior of Goiás state, when the artist and architect Talles Lopes witnessed a variety of unofficial constructions that replicated the shape of the colonnade and other modernist elements. Because it appropriated Modernist stylistics without following the guidelines of the Modern Movement, this type of architecture has often been called "Kitsch"[2] or "Popular Modernism"[3] . They are constructions made by non-architects (bricklayers, designers, engineers and often by the residents themselves) possibly throughout the 1960s after the massive media coverage of the construction of Brasília.

Based on the verified absence of architects in the country's interiors until the mid-1970s [4], added to the foundation and vertiginous expansion of urban centers in Brazil after the construction of Brasilia, it can be deduced that most of the spaces built under the modernity ideology were produced by non-architects, subjects responsible for the edification of a significant part of the built landscape in Brazil.

Concerned with the evident historiographic gap regarding these spaces produced on the periphery of modern thought, Brazil Builds has cataloged more than 100 of these constructions in 22 Brazilian states, in addition to 10 other examples documented in different countries around the globe (Guatemala, Egypt, USA, Iran, Portugal and Paraguay). Documentation was made possible through a method that associates keyword searches on social platforms, Wikipedia searches, and bibliography on popular architecture, added to long investigations through Google Street View.

The project proposes to bring this fascination with modernism in Brasília closer to one of its historical precedents: the exhibition and its homonymous catalog "Brazil Builds: Architecture new and old, 1652-1942", held at MoMA in 1943, organized by Philip Goodwin with images by photographer Kidder Smith. From a historical perspective, the exhibition presents a panorama of Brazilian modernist buildings, but like Brasilia, it strives to propose this architecture as supposedly representative of a national unity.

Brazil Builds (MoMA, 1943) narrates a modernity triumphant for its ability to adapt to the tropics, it fabricates an architecture that could modernize the third world to the extent that it was mixed in the cultural, geographical and climatic sphere, in a veiled and suspicious convergence with the current discourses of a racial democracy. In this sense, Brazil Builds anticipates Brasília and advocates for modernist architecture as the authentic representative of a supposed "Brazilian people", even if contradictorily this architecture was the exception in the landscape inhabited by these subjects.

The popular classes, "o povo", this abstract and heterogeneous category often ignored by modernization cycles, but called upon to compose the narrative of the modern movement, establishes a counterpoint by appropriating modernist architecture in the figure of the Alvorada Column, to elaborate their own senses of modernity. Thus, "Brazil Builds" proposes to understand this process through the fictionalization of an architecture catalog, appropriating the design and layout of the classic Brazil Builds catalog to present this collection of unofficial architecture scattered throughout Brazil.

Dissolving the boundary between official and unofficial narratives about modernity in Brazil, but like Caetano, speculating that it remains to be seen that there are many unfathomed levels, many mysterious stages in the relations between the masses and what is conventionally called modernity [5] .



[i] Raphael Fonseca. Catalog "A body on the air ready to make some noise" (Um corpo no ar pronto pra fazer barulho). Contemporary Art Museum of Goiás. Brazil.

[1] GUIMARÃES, Dinah; CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura kitsch: suburbana e rural. Ed. II. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

[2] LARA, Fernando Luiz Camargos. “Modernismo Popular: elogio ou imitação?”. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v. 12, n. 13, Dec 2005, pp. 171-184.

[3] SEGAWA, Hugo. Arquitetos peregrinos, nômades e migrantes. In: Interlocuções na arquitetura moderna no Brasil: o caso de Goiânia e de outras modernidades. Goiânia: Universidade Federal de Goiás-UFG, 2015.

[4] VELOSO, Caetano. Texto para o catálogo Des maisons comme des tableaux (Paris, Centre Georges Pompidou, 1988). In: Mariani, Anna. Pinturas e Platibandas. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.

Edificações mapeadas entre 2017 e 2022. Buildings mapped between 2017 and 2022.
Palácio da Alvorada.
Alvorada Palace.
Catálogo Construção Brasileira. MoMA. 1943. Brazil builds catalog. MoMA. 1943.
Catálogo Construção Brasileira. MoMA. 1943.
Brazil builds catalog. MoMA. 1943.